Frota no Rio cresceu 373% em cinco anos, e, nos últimos oito meses, Detran emitiu 1.772 registros
Segundo o Detran, entre 2010 e 2017, a quantidade anual de novos registros de veículos blindados no estado saltou 469% (de 423 para 2.408 unidades). De janeiro a agosto de 2018, 1.772 automóveis com proteção contra tiros foram inseridos no sistema de dados do órgão (parte deles recebeu a autorização do Exército no ano passado). O comerciante Alan Sathler, de 38 anos, ajudou a aumentar a estatística. Depois de ter uma Ford Ranger 2016 roubada a caminho de um shopping em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, ele resolveu investir num veículo blindado; no caso, um Toyota Corolla 2009.
— Eu estava com a minha família quando o crime aconteceu, numa tarde de domingo. Fomos abordados por três homens armados, que levaram a caminhonete e outros pertences. Ficamos expostos a um risco muito grande, e senti a necessidade de contar com mais segurança no ir e vir — afirmou Sathler.
APÓS SUSTO, PROTEÇÃO
O analista de sistemas Rômulo Barroso, de 53 anos, fez o mesmo após viver uma situação desesperadora. No dia de seu aniversário, ele e a mulher buscaram os filhos no colégio para uma comemoração e, no Túnel Velho, que liga Botafogo a Copacabana, a família foi surpreendida por uma perseguição seguida de tiroteio.
— Ver, ao lado da mulher e dos filhos, uma troca de tiros foi terrível. Hoje, não abro mão da blindagem — disse Barroso, que equipou um Citroën C4 usado.
Já o executivo Marcos Toledo, de 34 anos, decidiu comprar um carro blindado quando, por conta do trabalho, teve de trocar São Paulo pelo Rio e foi alertado por amigos dos riscos que corria.
— Paguei R$ 75 mil num Mitsubishi ASX 2012, blindado. Com esse valor, poderia comprar um carro mais novo, mas nada paga a sensação de estar protegido. Moro na Barra e preciso passar sempre pela Linha Vermelha — argumentou Toledo.
Segundo especialistas, além dos altos índices de violência, o avanço da tecnologia está por trás do aumento da procura por veículos à prova de bala no Rio. Feita com material mais leve que o usado até o início desta década, a blindagem resistente a disparos de revólveres, pistolas e submetralhadoras já pode ser aplicada em diversos modelos de carros com motor 1.6.
BUSCA DEVE CRESCER MAIS
Hoje, o preço da blindagem de um automóvel gira em torno de R$ 53 mil, considerando o tipo III-A, o mais alto nível permitido para civis.
— Muitas pessoas compram carros mais baratos e reservam um valor para a blindagem — afirma Lucy Dobbin, diretora da MF4 blindados, que vem reforçando uma média de 25 veículos por mês, três a mais que o registrado ao longo do ano passado.
A Associação Brasileira dos Blindadores Veiculares (Abrablin) projeta, para este ano, um crescimento de 25% nos serviços em todo o Estado do Rio. No ano passado, de acordo com a entidade, foram quase 1.300.
* Estagiária, sob a supervisão da chefe de reportagem Leila Youssef